Polêmico: Aborto online, a favor ou contra e outras coisas...

Já vou começar dizendo que o assunto do post de hoje é polêmico e vem textão por ai. Então senta, relaxa, abra sua mente e vamos conversar. 
Como uma estudante de jornalismo eu tento, na maioria das vezes - porque nem estudante, nem jornalista formado são conhecedores de tudo ou detentores de toda verdade absoluta -, sempre me manter atualizada sobre as pautas que cercam nosso dia a dia.  E durante essa minha busca diária por informação, me deparei no site da BBC Brasil - gosto bastante da forma que os assuntos são tratados - lendo uma reportagem exclusiva bastante chocante.  


A reportagem intitulada "Exclusivo: Por dentro de uma 'clínica secreta' de aborto no Whatsapp" traz um compilado de informações e depoimentos de mulheres que por medo, insegurança e outros milhares de motivos recorrem ao aborto clandestinamente e online. Isso porque no nosso país, a prática ainda é considerada crime. Sendo permitida apenas interromper a gravidez em caso de estupro, risco para a vida da mãe e feto com anencefalia.
A BBC acompanhou o grupo secreto que vende medicamento abortivo e funciona como espaço de apoio a mulheres que desejam interromper a gravidez por cinco meses. E os depoimentos das mulheres - que tiveram os nomes trocados por segurança - são extremamente tristes e desesperados. A reportagem também procurou a coordenadora do grupo de WhatsApp e nela a jovem conta que decidiu abrir a "clínica virtual de aborto" depois de engravidar aos 19 anos em decorrência de um estupro. 
"Eu não consegui interromper a gravidez legalmente porque o pai era uma pessoa influente. Eu amo meu filho. Mas a maternidade não era algo que eu escolhi para mim. Eu sentia que tinha a vida inteira pela frente e roubaram isso de mim... Eu decidi criar o grupo porque eu não acho justo que as mulheres sejam obrigadas a ter um filho se elas não quiserem." 
Não vou entrar muito em detalhes da matéria porque eu acredito que realmente vale muito a pena acessar e ler tudo. Para isso é só clicar aqui

Porém, gostaria de colocar alguns pontos de vista sobre o assunto que é tabu e tão polêmico ainda hoje. O aborto é permitido na maioria dos países desenvolvidos, como Estados Unidos, Canadá e os integrantes da União Europeia. Na América Latina, Cuba e Uruguai permitem a prática. Na Colômbia, o aborto passou a ser permitido para resguardar a saúde mental da mulher o que, na prática, contempla a gravidez indesejada (essas informações foram retiradas da reportagem). Já no Brasil, isso é bem diferente. Nosso país tem uma das legislações mais restritivas em relação ao aborto e isso pode ficar ainda pior. Pois segue em tramitação, uma emenda que estabelece proteção da vida desde a concepção. Isso significa que a proposta pode criminalizar até abortos em caso de estupro e feto com anencefalia. 


E então, me pego pensando o que é que estamos fazendo? Para deixar claro, eu não sou a favor do aborto e sim de sua legalização. E não, isso não quer dizer que sou matadora de bebês ou qualquer coisa do tipo. Apenas quer dizer que eu entendo que mulheres tem o direito de escolha sobre o próprio corpo e a própria vida. Quer dizer que eu compreendo que nosso sistema é falho e que isso gera a morte de milhares de mulheres todos os dias e todos anos. Quer dizer que ser a favor da legalização do aborto é ser a favor de uma prática correta, indolor e com acompanhamento médico e psicologico necessário.

Por isso, quero jogar aqui alguns dados e se possível, te fazer refletir. O aborto é um dos maiores problemas de saúde pública da mulher no país. A estimativa é que , todo ano, são realizados um milhão de abortos no Brasil. Onde  uma em cada cinco mulheres brasileiras irão realizar um aborto até os 40 anos, segundo  estudo feito pela Universidade de Brasília (UnB). A maioria clandestinamente. E é ai temos todo um problema. É fato que a maioria das mulheres que realizam esse procedimentos são pobres, negras e sem acesso à informações diretamente e aos meios anticonceptivos. 

Ah! E não me venha com a história de que essas mulheres engravidaram porque quiseram, já que nosso país tem um Sistema Único de Saúde (SUS) que disponibiliza tudo isso. Eu trabalho na área da saúde e posso observar e falar com propriedade, pelo menos no meu âmbito regional, que a coisa não é bem assim. Existe uma dificuldade enorme da informação e dos serviços chegarem ate essas mulheres. Já mulheres ricas quando decidem interromper a gravidez podem arcar com os preços altíssimos cobrados por clínicas clandestinas, contudo as mulheres pobres utilizam-se de métodos caseiros perigosos ou de clínicas de péssima qualidade, acabam em hospitais públicos com hemorragias graves e em alguns casos chegam ao óbito.

Agora alguns outros dados:
  • Cerca de 7% dos casos de violência sexual resultaram em gravidez em 2011, mas mas 67,4% das mulheres que passaram por esse sofrimento não tiveram acesso ao serviço de aborto legal na rede pública de saúde.
  • Segundo o Conselho Federal de Medicina, o aborto é a quinta causa de mortalidade materna.
  • A cada dois dias, uma mulher morre vítima de aborto inseguro no Brasil. Todos os anos, ocorrem 1 milhão de abortos clandestinos.
  • São 250 mil internações no SUS (Sistema Único de Saúde) e R$ 142 milhões gastos por causa de complicações pós-aborto.
  • As mulheres que abortam são, em geral, casadas, já têm filhos e 88% delas se declaram católicas, evangélicas, protestantes ou espíritas.
  • Um estudo realizado pela OMS mostra que nos países onde o aborto foi legalizado houve uma queda substancial no número de abortos realizados e alguns chegaram a zerar o número de mortes maternas, como por exemplo no Uruguai, onde eram realizados 33 mil abortos por ano e, após a legalização, o número de procedimentos passou a quatro mil.
Ser a favor ou contra a legalização do aborto é uma discussão longa e que ainda vai pairar por muito tempo. Porque chegar a um consenso nesse quesito é praticamente impossível, visto que cada um tem seus próprios argumentos para defender sua opinião. E isso não é um problema pois a sua ou a minha opinião pessoal, seja a favor ou contra, pouco importa já que mulheres continuam abortando. 


E ai você volta perguntar... Você é a favor do aborto? Claro que não. Ninguém é. Mas, como disse, da legalização sim. E já que acontecem, que sejam feitos da maneira menos traumática possível pra mulher que faz: dentro da lei, com segurança e sem cobranças sobre a vida dessas mulheres, que é somente delas. Uma coisa bem interessante a se pensar no que diz respeito a isso, que li na página Quebrando o Tabu é: "Você conhece uma mulher que já abortou? Se sua resposta for sim: você acha que essa pessoa devia ser presa? Se você acredita que ela não deve ser presa, você é a favor da legalização do aborto"



Fontes: BBC Brasil; Think Olga; Catraca Livre.

 

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